Sonhar acordado

21-07-2014 20:29

Após as apresentações de filmes violentos, sensaborões e “sem ponta por onde se lhe pegasse”, e de lhe ser impingida propaganda, soldada também pelo valor do bilhete, começou a “Maléfica”, a perspetiva da Rainha Má, nas histórias da Bela Adormecida e da Branca de Neve.

A película tem a fascinação inebriante da Disney. Tudo se torna lindo, doce e cândido até a improbidade de uma fada que perde as asas num engodo amoroso e que faz da sua vida uma cruzada contra a ideia do “amor verdadeiro”. A Maléfica não é assim tão nefasta. O pai da Branca de Neve é tudo menos inócuo no desenrolar da história e a mãe imiscui-se do destino da filha. O príncipe não é encantado e as fadas boas são inadimplentes para tratar de uma pequena humana. Mas há amor verdadeiro na história, maus “curam-se” e a beleza e a bondade acabam por imperar. A Maléfica, de chifres retorcidos, vestes negras e magníficos olhos verdes, salva o dia e cumpre o seu papel de heroína negra.

Ela idolatra embrenhar-se nos enredos das histórias, ser princesa ou vilã, ou qualquer outro ente. Sai do cinema a pairar ainda, como se estivesse dentro da história e, às escondidas do filho, esmaga uma ou outra lágrima furtiva que teima em saltar… Esta é uma das suas particularidades que ainda não entendeu ter já ultrapassado a barreira dos quarenta, comover-se com enredos mais ou menos improváveis.

Dentro daquelas quatro paredes negras, às escuras, destaca-se o ecrã onde habitam seres criados por outrem. Países são salvos, doenças são curadas, malfeitores são castigados, bons são recompensados e o amor é eterno, talvez porque, em muitas histórias, termine no dia do “casaram e viveram felizes para sempre”. Ainda assim, o cinema faz sonhar acordado e isso é sempre uma realidade boa.

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