Sede de saber!

29-02-2016 21:58

    Ontem numa televisão perto de si, um dos genéricos canais portugueses, que até é um dos grandes veículos da chamada cultura popular, ela assistiu a uma reportagem sobre o Teatro Nacional D. Maria II. Ela já o visitou, não na perspetiva que ontem foi apresentada, apenas no papel de espetadora do maravilhoso “Falar verdade a mentir” de Almeida Garrett.

    Na referida reportagem mostraram os sete andares do Teatro, os bastidores, as salas de ensaios e os vastíssimos armazéns de acessórios e deliciosas peças de roupa portentosas que foram usadas por ilustríssimos nomes do teatro português. Há ainda uma biblioteca/arquivo com um acervo estonteante de todas as peças ali representadas. É um local inesgotável de conhecimento e cultura.

    Um dos pormenores que mais gostou de conhecer foi a origem da expressão “Muita merda” (desde já peço desculpa pelo coloquialismo teatral). No teatro não se deseja “boa sorte” antes de uma estreia. Deseja-se muita m… (não, não vou repetir). Isto porque a adesão (e não aderência…) a uma determinada peça de teatro era medida, nos idos tempos das carruagens puxadas a cavalo, pela quantidade de bosta de cavalo que se amontoava à porta da casa de espetáculos. Quanto mais m… mais sucesso a peça teria! Além desta, muitas outras histórias ali foram referidas, desde fantasmas no teatro, a espíritos errantes e incêndios que destruíram provas de uma época áurea da nossa cultura.

    Hoje viu nova reportagem, desta feita sobre Fernando Pessoa e todos os seus colegas e militantes do inconformismo da revista Orpheu. Era gente que se revoltava, que estava “na crista da onda” do modernismo e que escrevia textos e pintava imagens que hoje fariam gente incauta virar as faces coradas.

    E ao ver estas reportagens e recordar conhecimentos já aprendidos há muitos anos, e outos pesquisados e procurados porque assim o desejou, cogitou nos seus alunos e nos seus horizontes. Eles não mostram, na maioria das vezes, sede de conhecer mais, vontade de saber histórias da História, sede de conhecer curiosidades culturais ou de outra qualquer raiz. É verdade que na escola o tempo para ensinar a “ler e escrever” é muito escasso, com programas extensos e teóricos. Por vezes, em situações mais lúdicas ou culturais, alguns até revelam o gosto por saber mais. Mas numa era em que tudo está na ponta dos dedos, todo o conhecimento está à distância de um leve clique, eles jogam, percorrem redes sociais, veem imagens não próprias para si, entre outros. E cada vez sabem menos histórias, conhecem menos curiosidades e revelam vontade de ir menos locais culturais que não impliquem montanhas russas e hordas de gente barulhenta.

    É talvez este o peso, a herança do desenvolvimento… Quem sabe… Apesar de usar a internet diariamente, por reconhecer o seu enorme valor e interesse, ela ainda gosta de saber mais, de ver coisas novas… e vai tentando transmitir isso ao seu filho e pupilos da escola. E acredita que, como tudo nesta vida, tudo se movimenta em círculos e que agora ou mais tarde os jovens irão voltar a gostar de saber histórias que não sejam contadas por um ecrã!

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