Sabor a infância!

24-07-2015 23:20

    Naquele o tempo o pai arrendava uma casa durante quinze dias, na Nazaré, em setembro. Era a altura em que as aulas apenas reiniciavam em outubro e setembro era quente e apetecível. Ficavam numa casa diferente em cada ano, o que fez com que ela e as irmãs ficassem a conhecer vários cantos da pequena e pitoresca localidade balnear.

    Ela recorda particularmente uma casa, pequeno apartamento, na rua do ascensor, que ela dizia chamar-se elevador. O centro do edifício baixo era constituído por um pátio onde várias pessoas, a sua mãe incluída, acendiam fogareiros com carvão, para assar as sardinhas e peixes diversos comprados cedinho na lota. Enquanto cozinhavam, o ar prenhe de aromas era impregnado pelo som de “onde vais portuguesa bonita, volta atrás p’ra escutar a canção…”, troada do famoso José Cid. Ela ainda hoje sabe toda a letra da canção, aquelas coisas que inexplicavelmente nos ficam embutidas nos gavetões memorais mesmo que não o queiramos.

    A mãe acordava muito cedo e, enquanto a horda dormia, atravessava a praia e ia ao mercado buscar o pão quentinho, a fruta doce e colorida, o peixe fresco para as refeições do dia. Voltava a tempo de colocar a mesa do pequeno almoço e acordar toda a gente para a praia. Arrendavam sempre uma barraca, coberta do grosso tecido às riscas, com a bola da Nivea em pano de fundo. Por volta das onze da manhã a mãe abandonava a praia e ia fazer o almoço. De tarde dormitavam a sesta e por volta das 16h voltavam à praia. De novo a sua mãe saia mais cedo, desta feita para prover o jantar.

    Naquela altura as casas de praia pouco mais tinham que a mobília, pelo que os veraneantes tinham que se fazer acompanhar de tachos, panelas, pratos, talheres, roupas de cama e afins… Hoje, passados estes anos, cogita que realmente a mãe talvez não devesse apelidar certeiramente aqueles dias como férias. Trabalhava tanto ou mais que em casa, quer na preparação daqueles dias, quer no cuidar de uma família de cinco pessoas, três crianças pequenas, durante aquele tempo. E no final lá se encaixotava tudo de novo e encafuava no pequeno carro da família, para em casa ser tudo lavado e arrumado de novo! A trabalheira.

    Para ela a água parecia sempre azul e quente, a areia dourada e centro de brincadeiras. O monte que leva ao sítio da Nazaré era o parque de todas as aventuras. Ela e as irmãs subiam o que conseguiam, a cada dois passos avançavam meio porque deslizavam na areia, e sentiam-se a conquistar o Evereste. As toalhas de praia eram passadeiras coloridas, os lanches pães com manteiga e fiambre, fruta. Desconheciam-se ainda os snacks pré-prontos de hoje em dia. O dia era vivido entre correrias, arrelias entre as três irmãs, banhos no mar e rápidos banhos de sol, sim, porque havia tanto para fazer, qual a piada de torrar na areia?

     Ela recorda estes dias com saudade Eram dias bons, muito bons! Férias, com sabor a infância!

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