Horas, minutos e segundos!

26-07-2015 21:29

    Há muitos anos atrás, “retornada” de Angola, ela, os pais e a irmã do meio (ainda não existia a mais nova) instalaram-se em Fafe, terra da mãe. A palavra “retornada” tem uma conotação curiosa, principalmente para ela e para a irmã, que retornaram a nada… Elas nasceram em Angola, não re-tornaram a parte nenhuma, vieram para Portugal, a metrópole… Mas esta cogitação levaria a outra discussão mais filosófica, quiçá política, para a qual agora não há tempo!

    Em Fafe, depois do pai também se juntar a elas, uma vez que veio posteriormente, ainda na ponte aérea, viveram numa pequena casa, sem luz, nem água canalizada. Vinda de  uma capital, Luanda, local onde já havia tudo, os cadeeiros a petróleo devem ter-se-lhe assemelhado a um objeto vindo de outro planeta.

    O tempo ali devia ter realmente outro significado e ela passava uma parte dele a fazer uma das coisas que mais gostava: falar. Claro que os pais também precisavam de o fazer e conversar sobre as incidências diárias e ela aborrecia-se de não ter atenção. Lá deve ter amuado e quando num instante apanhou os pais calados disse resoluta: Pai, agora cala-te que eu quero falar, também sou portuguesa! Na sua cabeça isso devia ser algo justificativo de ter tempo de antena. O pai e a mãe riram e anuíram. Ela tinha um relógio novo, de plástico colorido, daqueles que se vendiam nas feiras. Para lhe dar atenção o pai perguntou: Que horas são filha? E ela resoluta e refilona respondeu: Horas, minutos e segundos!

    E é isto! São sempre só horas, minutos e segundos! Ela é que já sabia relativizar tudo isto!

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