Freak show

17-07-2014 22:49

Sábado, 5 de julho de 2014 (tarde)

“Welcome to the circus, welcome to the freak show…”

Hoje esta música não lhe sai da cabeça. Uma das suas favoritas nas aulas de grupo do ginásio, sem as quais se torna um bocadinho mais difícil manter o otimismo, que, felizmente a acompanha desde sempre. A vida às vezes parece isto, um espetáculos de raridades.

Após o almoço desceu de elevador até ao piso de entrada do SPA e saiu para esticar a pernoca, dando uma voltinha higiénica ao recinto. As suas consortes ficaram nos leitos, imobilizadas pelos tratamentos que lhes infligem, tudo em nome da melhoria do bem estar pessoal.

Ao descer, num dos inúmeros elevadores que apontam o letra daquele que temos que utilizar para chegar ao nosso destino, de auscultadores nos ouvidos, demorou-se na observação das “pessoas humanas” que consigo se cruzavam. As já muito familiares batas e fardas brancas, verdes e azuis por ali andavam, umas diligentes a laborar, outras mais calmas em breves minutos de descanso.

No piso 0, entrada do SPA, de repente começa a ver uma catadupa de gente a andar no sentido contrário a si, numa corrida algo desenfreada para alcançar os ascensores que os conduziriam aos seus entes mais ou menos queridos. Crianças aos saltos, idosos com roupa “de domingo”. Sacos com roupas, garrafas de água e caixinhas plásticas com fruta, ramos de flores, transportados por gente com caras felizes, preocupadas, angustiadas, esperançadas. Saiu e percorreu o caminho que circunda o SPA. Algumas pessoas olhavam para si de forma estranha… será porque saiu do SPA de farda, ou seja, camisa de noite, que se assemelha a um vestido de uma praia que teima em tardar? Não, deve ser mesmo porque olham, todos olhamos uns para os outros, ainda que excecionalmente nos vejamos.

Ao regressar do périplo, com a já costumeira, e a acostumar, mágoa na perna direita, viu várias pessoas, da mesma família intuiu, a cumprimentarem-se. Não, não era apenas cumprimento, era conforto. Ao aproximar-se viu pranto, mãos dadas de forma cúmplice, palavras de aconchego. Irónico, como um local onde se publicita, vende e troca saúde, pode ter estes contrastes. Um pai que carrega um peluche para um filho recém nascido, uma avó que leva flores à nora que lhe deu o primeiro neto e uma família que chora alguém que não mais verão.

Ela atravessa o átrio empedrado e brilhante, algo imponente do edifício, carrega para o quarto andar, segue no elevador C indicado e regressa aos seus aposentos, para continuar a revisão dos 40.000. A máquina pede! O “freak show” da vida, esse, segue dentro de momentos!

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