Cidade grande!

14-08-2015 20:07

    A partir do meio da tarde o astro rei, amarelo e bojudo, inicia a sua lenta e ardorosa descida até um ponto lá longe, no horizonte-mar! Prematuramente as divisões das casas escurecem, a luz alva das luminárias criadas pelo homem é necessária para iluminar salas em branco e negro, povoadas de móveis de linhas retas e hodiernas.

    A altura dos edifícios, de quem se diz arranharem os céus, faz com que lá em baixo, na rua, já se tenha instalado a noite. Os ingleses têm a palavra apropriada, “evening”, algo sem tradução na douta língua de Camões. É o entardecer. Prenhe de sons, carros que chegam transportando os seus mestres ao fim de mais um dia de labuta; crianças que brincam nos espaços para si desenhados naqueles gigantes de cimento; obras ali ao lado, num qualquer apartamento que vai ter habitantes novos; motores potentes de pássaros voadores mecânicos, que levantam e poisam ali mesmo ao lado, no aeroporto local.

    Nos quadrados coloridos, rasgados nas paredes dos edifícios, as sombras agitam-se, repastos são preparados, vestes são lavadas em máquinas silenciosas, empilhadas num canto da cozinha. Mais tarde a loiça dos comensais será lavada, as crianças terão já tomado banho e estarão na cama esperando o sono, mochila preparada para o dia seguinte. Os adultos irão sentar-se nos sofás de pele e “zappear” pelos canais da TV, não se fixando em nada de especial, acabando por dormitar ali mesmo. Às cinco, seis da matina, os impiedosos despertadores irão iniciar a sua tarefa diária. Alguns irão soar uma vez, vários de cinco em cinco minutos, até que todas as “pessoas humanas” estejam de novo dentro dos seus carros, a caminho dos locais conjeturados e rotineiros.

    O sol, esse, terá já subido ao seu ponto mais alto e lá continuará a difundir o seu pó doirado. E assim sucessivamente… 

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